sábado, 16 de abril de 2011

Construção da Usina de Belo Monte deixa dúvidas sobre seu real impacto socioambiental



Texto: Mayra Wenzel
Edição: Camila Farinhuk e Amanda Campoy

A polêmica em volta da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, localizada na Bacia do Rio Xingu, já dura mais de 20 anos. A hidrelétrica, hoje considerada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, vem sendo alvo de intensos debates na região.

Os movimentos sociais e as lideranças indígenas da região são contra a obra, pois consideram que os impactos socioambientais não estão explícitos o suficiente. Em outubro de 2009, a Funai (Fundação Nacional do Índio) liberou a obra sem saber exatamente os impactos que causaria sobre os índios e lideranças indígenas kayapó, que enviaram carta ao Presidente Lula na qual diziam que caso a obra fosse iniciada haveria guerra. O auge da discussão foi em fevereiro de 2010, onde o Ministério do Meio Ambiente concedeu a licença ambiental, novamente sem esclarecer questões centrais em relação aos impactos socioambientais.

Além dos Juruna da Terra Indígena Paquiçamba, localizados mais próximos à usina, a área de influência de Belo Monte, segundo definição da Eletronorte, envolve outros nove povos indígenas: os Assurini do Xingu, os Araweté, os Parakanã, os Kararaô, os Xikrin do Bacajá, os Arara, os Xipaia e os Kuruaia.

“O impacto é generalizado, pois mexe na raiz de todo o funcionamento do ciclo ecológico da região. Entre a Volta Grande do Xingu e Belo Monte, o nível d'água vai ficar bem abaixo da maior seca histórica e, rio acima, ficará permanentemente cheio, num nível superior à maior cheia conhecida. Assim, teremos, simultaneamente, trechos do Xingu sob condições hidrológicas extremas e diametralmente opostas, sendo que todo o regime ecológico da região está condicionado às secas e às cheias”, explicava em entrevista ao ISA (Instituto SocioAmbiental), em 2002, o pesquisador Jansen Zuanon, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

De acordo com Zuanon, algumas árvores do local sobrevivem meses de baixo d’água, mas com o passar do tempo vão acabar morrendo.

“Essas árvores servem de dieta para muitos peixes, por exemplo, o que gera impacto sobre a fauna e, conseqüentemente, para todo o ciclo ecológico da área. Além disso, muitos peixes sincronizam a desova com a cheia e, portanto, na parte que vai ficar muito seca, é possível que haja diminuição de diversas espécies. Esses impactos deverão provocar uma busca por novas áreas de pesca comercial e ornamental, que provavelmente se estenderão pelo trecho a montante da cidade e poderão atingir o Médio/Alto Xingu e Iriri.”